RESUMO
QUANDO
A DANÇA É jOGO E O INTERPRETE É JOGADOR
Esta investigação tem
como objeto a criação em dança fundada em princípios elementares do jogo. Tomei como hipótese a ideia de que o
conceito de jogo poderia ser aplicado na prática da criação cênica não só como
recurso na geração de material criativo (improvisação), mas também incorporado
como engrenagem e elemento estruturador da composição coreográfica, tornando-a
assim permanentemente aberta às novas proposições. Esta concepção de obra como
o exercício do jogo impõe à atuação do intérprete a condição de reagir em cena
à situação presente, no aqui e no agora, demandando uma ação que responda à
possibilidade do acaso, do efêmero e do imprevisível. Isto apartaria toda e
qualquer tendência à execução mecânica de partituras conhecidas de movimento,
logrando obter uma presença expressiva pela veracidade das ações que surgem em
resposta à instabilidade da situação. No âmago dessa pesquisa, está a
realização de cinco projetos de encenação: Olhos
de Touro, De touros e Homens, Jogos temporários, Húmus e MOBAMBA. Experiências
que evidenciaram em seus processos criativos a força da corporeidade cênica
gerada pelas relações e situações implicadas nos jogos criados para a cena, os jogos-cena, definidos como estruturas de
composição regidas por um conflito imaginário, situado em espaço e tempo
próprios, oferecendo aos jogadores liberdade para atuar sobre uma gama de
possibilidades imprevisíveis de ação, delimitadas por regras e norteadas por
uma progressão dramática objetivando a produção de sentido e significados. Esta
corporeidade exigiu atributos e competências que extrapolaram as conhecidas
demandas que incidem sobre o intérprete-criador, sobretudo no que concerne a
capacidade de lidar com as múltiplas associações paradoxais que as situações de
jogo impõem, como aceitar as regras
como aliadas da liberdade, se dispor a atingir uma profunda percepção de si em
conexão com o todo à sua volta, integrar a imaginação à realidade da ação e
exercer singular autonomia criativa e autoridade sobre a obra, abrindo outra
perspectiva para a compreensão da noção de atuação do intérprete–jogador.